quinta-feira, 1 de setembro de 2011

A CIÊNCIA DOMINA OS LIVROS DE CABECEIRA


Conheça a dupla de pesquisadores que usou o jaleco para virar best-sellers


Por Laura Folgueira
Fonte: Galileu OnLine

O conhecimento científico tem de estar no dia a dia das pessoas — e também ocupar um lugar na estante. Isto é o que defendem os autores Robert L. Wolke, químico que já lançou dois volumes de O que Einstein Disse ao seu Cozinheiro (Zahar), e Leonard Mlodinow, físico por trás de O Grande Projeto (Nova Fronteira) e O Andar do Bêbado (Zahar), antes mesmo de seus livros virarem sucessos. 


A dupla se despe do jaleco para investir na carreira de escritor de best-seller, sem deixar de lado a ciência. “Qualquer um que entenda seu campo tem de ser capaz de explicá-lo a leigos. Estamos sempre simplificando, mas, parafraseando Einstein: ‘É preciso ser o mais simples possível, não mais do que isso’”, afirma Mlodinow. 

Os dois vêm ao Brasil neste mês para a Bienal do Livro, que acontece no Rio de Janeiro de 1 a 11 de setembro — mesma data em que o físico, em 2001, passeava na mesma rua do World Trade Center, no começo do ataque às torres gêmeas. Parece pouco provável? Pois foi o acaso que lhe ajudou a divulgar suas ideias.


Robert Wolke  
Como o sucesso de livros científicos ajuda a divulgação científica? As pessoas, em geral, têm medo da ciência. Lemos sobre descobertas importantes no jornal acreditando que estão fora de nossa capacidade de compreensão. Minha “cruzada” é ensinar pessoas que não têm nenhum conhecimento técnico, para dissipar esse medo. A experiência com os livros abre as pessoas para um dos aspectos mais importantes da sociedade. Todo mundo entende um pouco de arte, arquitetura, mas a ciência não tem essa atenção do público, o que é uma pena.

Como é possível explicar sem simplificar demais as coisas? É difícil não “emburrecer” o tema – porque isso seria insultar as pessoas. É preciso começar a partir do nível de experiência do seu público. Escrevo sobre a ciência relacionada à comida. Todo mundo já esteve em uma cozinha, já viu água fervendo, então eu começo por aí. Isso é ciência acontecendo bem nos nossos olhos, mas sem ser reconhecida nem entendida.

Você esperava ser um sucesso de vendas também no Brasil? Os meus livros foram traduzidos para mais de 20 idiomas ao redor do mundo. E isso é muito gratificante. O assunto dessas obras transcende diferentes culturas e realidades, porque um bom tradutor consegue ajustar isso e colocar no contexto coisas que são puramente americanas e aproximar seu público do conteúdo.

Como você faz para tornar a ciência agradável de ler em qualquer lugar do mundo? Os livros que eu escrevo são sobre as relações entre comida e química, e eu organizo isso por ambientes e lugares, como a cozinha, por exemplo. Eu falo de uma circunstância no livro e acabo ensinando a ciência que está por trás tudo que você vê.

No processo de criar essa linguagem acessível, como não perder os fãs da ciência? É uma pegadinha mesmo. Você tem de ser claro o suficiente, inclusive para o público que já conhece o assunto, porque eles também podem aproveitar alguma ideia. Meus livros chamaram a atenção de renomados chefes de cozinha, apesar de te-los escrito para cozinheiros amadores. Há bastante coisa que eu conheço, mas eu também continuo aprendendo com os livros de ciência, descubro novos pensamentos neles. Esses livros “comuns” fazem perguntas que toda pessoa, independente do seu nível de conhecimento sobre a ciência, deveria se perguntar todo dia.

Misturar ciência e outros temas – como culinária – é o futuro da produção científica? Sempre houve uma barreira entre a ciência e as artes. Mas não vejo essa barreira sendo demolida, por muitos motivos; o principal é que a ciência fica cada dia mais complicada, então precisaria um grande talento para misturar as coisas. Não sou muito otimista, mesmo que mais gente comece a fazer o que eu venho fazendo.

Leonard Mlodinow
Como escrever algo complexo como a física para um público amplo?
Qualquer um que entenda seu campo de estudo tem que ser capaz de explicá-lo para leigos. Se não consegue, é porque não entende. Estamos sempre simplificando, mas, parafraseando Einstein: “É preciso ser o mais simples possível, não mais do que isso”.

É mais fácil fazer isso com um parceiro, como Stephen Hawking?
Não. Com ele, dividimos o livro [O Grande Projeto] em capítulos: eu escrevia alguns e ele, outros. Ele os mandava para mim e trabalhava em cima. Depois, os enviava para ele comentar. Você gasta a metade do tempo fazendo, mas o dobro só discutindo.

Como é o processo de criação de um livro científico?
Bem, não é de um jeito muito científico. Eu pego um esboço do que eu quero escrever e faço para mim o que cada capítulo deve ter. E eu vou seguindo meu instinto. Muitas das coisas que escrevo acabam virando outras que nem imaginava descobrir. O mais importante nesse processo é deixar o texto interessante.

Você esperava ser um sucesso também no Brasil, um país distante da sua realidade – inclusive nas realizações científicas?
Não esperava me sair bem em nenhum país. Só penso que todo livro deveria ser um best-seller em qualquer lugar do mundo, apesar de sempre esperar o pior. Minha filosofia é: “Faça o melhor que você puder”. Mas isso não necessariamente reflete bem as coisas: há livros ruins que vendem bastante e excelentes livros que não. Mas, claro, é sempre agradável ver que você está se saindo bem em outros países também.
Misturar ciência à literatura é um bom jeito de divulgar ideias, ou as áreas não devem se intercalar?
Eu acho essa mistura excelente, mas isso não pode substituir os pesquisadores que fazem apenas trabalhos científicos.

Como a ciência nos ajuda a lidar com problemas diários, como a lei da probabilidade?
Na verdade, é a lei da probabilidade que ajuda a entender a ciência e os fatos diários. É um senso comum, lidamos com ela todo dia. O futebol, por exemplo, depende do talento, mas também da sorte. Se num jogo o Messi não marca nenhum gol e no outro marca três, não quer dizer que ele estava melhor nesse dia; os gols dependeram de fatos casuais da partida: o goleiro falhou um dia, ele sofreu falta em outro etc. 

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