terça-feira, 5 de abril de 2011

DO FUNDO DO OCEANO

Bactérias encontradas em regiões pouco exploradas do Atlântico sul revelam-se potencialmente úteis a vários setores industriais. Estudo dos microrganismos, iniciado em 2009, deverá ser concluído ainda este ano.

Por: Katy Mary de Farias
Publicado em 04/04/2011
Fonte: Instituto Ciência Hoje

Diferentes bactérias (ainda não identificadas) coletadas no Atlântico sul, 
a uma profundidade de cerca de 5 mil metros. As imagens foram obtidas
 com o auxílio de uma lente close-up. (fotos: André de Souza Lima/ Univali)

Iniciada há pouco mais de um ano, pesquisa feita por microbiologistas brasileiros começa a render frutos. A equipe, que coletou cerca de 250 diferentes bactérias na porção sul do oceano Atlântico, a uma profundidade de 5 mil metros, constatou que algumas delas têm aplicação na indústria de medicamentos e na produção de biocombustíveis e de plástico biodegradável.
Os microrganismos foram extraídos da água e de sedimentos da Dorsal Atlântica, cadeia de montanhas submersa localizada entre a América do Sul e a África. Segundo o biólogo André de Souza Lima, que coordena o estudo, as primeiras análises já feitas das amostras revelam que de 10% a 15% das bactérias coletadas podem produzir enzimas de interesse biotecnológico.

Para avaliar o potencial biotecnológico das bactérias, os pesquisadores adicionam 
às colônias o corante Vermelho do Nilo. Se o microrganismo é capaz de produzir bioplástico, 
o corante se liga ao polímero, tornando o complexo fluorescente – como se vê à esquerda.
 (foto: André de Souza Lima/ Univali)

Uma delas é a lipase, que tem aplicação na produção de biodiesel. Os pesquisadores esperam encontrar também espécies produtoras de lactase, que tem utilidade na fabricação de bioetanol.
“Sabemos que a queima desses combustíveis tem um impacto muito menor na produção de gases de efeito estufa”, diz Lima, da Universidade do Vale do Itajaí (Univali), em Santa Catarina. Segundo ele, é provável que algumas bactérias possam produzir enzimas úteis também à indústria têxtil e de alimentos.


Outra face

O potencial de produção de enzimas por essas bactérias tem uma explicação. Segundo o biólogo da Univali, é nos mares profundos que se encontram espécies com maior estabilidade no que diz respeito a salinidade, pressão e temperatura.
“Por se tratar de um ambiente de temperaturas baixas e pobre em nutrientes, essas enzimas podem apresentar uma temperatura de atividade diferenciada e elevada afinidade pelo substrato, entre outras características vantajosas.”

Placa usada para avaliar a produção de celulase, enzima útil na obtenção de energia a partir de biomassa. 
Cada compartimento contém uma amostra das enzimas produzidas pelas bactérias, 
à qual se adiciona um reagente. Quando a substância é quebrada, a mistura muda de cor e se torna fluorescente, 
indicando a presença de celulase. (foto: André de Souza Lima/ Univali)

A pesquisa faz parte do projeto ‘Mar-Eco: Atlântico Sul’, que por sua vez integra o Censo Mundial da Vida Marinha. Para obter o material que atualmente está sendo investigado, os pesquisadores permaneceram em alto-mar durante um mês, em 2009.
A coleta foi feita com o auxílio de dragas e redes, que ficavam cerca de três horas na água depois de terem sido lançadas.
A perspectiva é de que até o fim do ano as análises estejam concluídas. Para Lima, além de possibilitar a identificação de novas enzimas, o estudo apresenta outra face de grande importância: conhecer a diversidade de um ambiente que ainda não havia sido explorado.

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