quinta-feira, 22 de março de 2012

AÍ EU ME AFOGO NUM COPO DE CERVEJA

Pesquisa mostra que machos de moscas-das-frutas privados de sexo buscam prazer na bebida alcoólica. O comportamento pode ajudar a esclarecer mecanismos envolvidos na geração de sensações agradáveis em humanos. 


A cena é clássica: rejeitado por sua amada, o homem afoga as mágoas na bebida. Embora seja típica das novelas, essa história se passa em um laboratório em Maryland, nos Estados Unidos, onde machos da espécie Drosophila melanogaster – mais conhecida como mosca-da-fruta – buscaram prazer no álcool após serem desprezados quando tentavam copular com as fêmeas.

Durante a pesquisa, foram observados dois grupos de moscas. No primeiro, os machos eram colocados junto a fêmeas virgens e, após cortejá-las, a cópula acontecia sem problemas. Já o segundo grupo era formado por machos expostos a fêmeas que já haviam copulado e rejeitavam nova atividade sexual, fugindo e chutando os possíveis parceiros.

Logo após a atividade sexual, frustrada ou não, os dois grupos tinham a possibilidade de ingerir líquidos com e sem etanol. Enquanto o primeiro grupo consumiu a mesma quantidade das duas bebidas, o segundo exibiu uma preferência significativa pelo líquido com etanol. O objetivo dos cientistas era entender os mecanismos químicos envolvidos na busca pelo álcool.


Veja abaixo o vídeo que mostra o comportamento das moscas durante a experiência:

O estudo, publicado esta semana na revista Science por pesquisadores da Universidade da Califórnia e do Instituto Médico Howard Hughes, nos Estados Unidos, descreve o álcool como um substituto do sexo na tentativa de obter prazer. Assim como em humanos, o prazer sentido pelas moscas é atingido através da ativação do sistema de recompensa, formado por neurônios capazes de liberar substâncias que geram sensações agradáveis.

Para chegar a essa conclusão, os cientistas analisaram os níveis de neuropeptídeo F (NPF), substância responsável por estimular o sistema de recompensa das moscas. Logo após a tentativa frustrada de copular, os machos exibiam níveis muito baixos de NPF, que aumentavam após o consumo de bebida alcoólica. “Tanto o etanol quanto a exposição a fêmeas que permitiam a cópula aumentaram os níveis de NPF, mostrando que essa substância é fundamental nos mecanismos que geram prazer”, explica Galit Shohat Ophir, biólogo que faz parte da pesquisa.

Rejeição x privação sexual

Os pesquisadores procuraram então entender se a experiência emocional de rejeição sofrida pelas moscas é o principal fator responsável pela dependência do álcool. A resposta poderia ajudar na compreensão de mecanismos bioquímicos envolvidos em distúrbios humanos como depressão e estresse pós-traumático, que também são influenciados pela interação social e estão associados a níveis abaixo do normal do neuropeptídeo Y (NPY), um análogo do NPF.

O novo experimento envolveu a união de machos virgens – teoricamente, ansiosos pela cópula – com fêmeas decapitadas, que, apesar de não rejeitarem os machos, também não participariam da atividade sexual. Quando expostos ao líquido com etanol, esses machos apresentavam o mesmo nível de dependência que o grupo rejeitado, mostrando que o principal agravante na busca pela bebida é a privação sexual em si e não a sensação de rejeição.

A descoberta pode ajudar na busca por tratamentos para os distúrbios humanos. Segundo Galit, o NPY está envolvido em muitos processos bioquímicos e pode ser difícil descobrir medicamentos que regulem seus níveis. “Entender como funcionam os mecanismos envolvidos na produção do NPF das moscas pode esclarecer dúvidas sobre a formação dos neuropeptídeos humanos”, completa o pesquisador.

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