quarta-feira, 4 de maio de 2011

DNA PARA TODOS. ESTAMOS PREPARADOS?

Por: Mayana Zatz
Fonte: Veja


A reportagem da VEJA desta semana (‘DNA Para Todos’, 27 de abril) me chamou a atenção. Ela fala do lançamento do novo sequenciador de DNA a um custo que poderá tornar os testes genéticos acessíveis a muitos consultórios.
Na semana anterior, a revista Pediatrics (18 de abril) publicou uma reportagem  acerca da atitude dos pais em relação a testes genéticos na pediatria para doenças comuns de adultos, o que demonstra que esses exames estão se popularizando cada vez mais.
Por enquanto, esse novo equipamento permitirá analisar genes já conhecidos mas em um futuro próximo será capaz de analisar o genoma completo. Descobrir se temos mutações ou variações em nossos genes vai se tornar cada vez mais fácil, mas entender o seu significado não é trivial.
Quem vai interpretar os resultados? “Achei uma mutação no seu DNA, ou na de seu filho, mas não sei o que isso significa” Será que vamos ajudar as pessoas ou corre-se o risco de que isso vire um grande comércio gerando novas angústias, principalmente nos hipocondrìacos? Estamos preparados para isso?
E os pais? Vão querer testar seus filhos? É o que discute uma pesquisa americana recente liderada pelo cientista Kenneth Tercyak , da Universidade Georgetown em Washington.
O que pensam os pais acerca de testes genéticos pediátricos para doenças comuns?

Para responder a essa pergunta, foram entrevistados 219 pais que responderam a um questionário sobre a sua atitude em relação a submeter seus filhos a um teste genético múltiplo para estimar o risco de virem a desenvolver oito doenças comuns de adultos: câncer de colon, pele e pulmão, colesterol aumentado, osteoporose, cardiopatia, hipertensão e diabetes tipo 2. Os pais tinham que decidir acerca dos benefícios versus riscos (ou aspectos negativos) em submeter seus filhos a esses testes preditivos. A enquete mostrou que  51% dos pais eram a favor de testar os filhos .Segundo eles a informação poderia resultar em uma melhoria na manutenção da saúde, prevenção de doenças e outros benefícios pessoais durante a infância e no futuro de suas crianças.

Entretanto o Dr. Tercyak chama a atenção para o que eu tenho repetido constantemente: a dificuldade em interpretar os resultados dos testes genéticos. Segundo ele, um resultado em uma criança apontando um aumento de risco poderia causar reações negativas entre pais e filhos sem trazer nada de positivo.
Quais seriam então os benefícios dos testes preditivos?

É interessante lembrar que uma pesquisa recente publicada na revista New England Journal of Medicine mostrou que os resultados de testes acerca de riscos genéticos em adultos não os influenciaram em aspectos como ansiedade, hábitos alimentares ou  atividade física. Ou seja, os autores concluem que a informação acerca dos resultados desses testes genéticos não teve efeito psicológico, comportamental ou clínico nos consumidores, pelo menos a curto prazo. E mais ainda: o artigo comenta que apenas 10% dos médicos nos Estados Unidos têm conhecimento suficiente para entender o significado de um teste genético.

Se os resultados dos testes genéticos não influenciam os adultos, por que testar crianças?

Apesar disso, o lançamento de seqüenciadores de DNA de baixo custo indicam que haverá uma proliferação de testes genéticos para adultos e a tendência é que migrem para a área pediátrica. E se o resultado genético mostrar que seu filho não  tem risco aumentado de ter altos níveis de  colesterol, obesidade ou hipertensão? Isso garante a seu filho que ele será um adulto saudável e  ele poderá então  ser liberado para comer de tudo sem restrições e sem praticar exercícios físicos?

Não há contra indicações

Levar uma vida saudável, com uma alimentação balanceada e atividades esportivas, respeitando sempre a vocação e o limite de cada criança, é a receita que deve ser prescrita a todos, independentemente de riscos genéticos. Todo mundo sabe disso. Não há contra-indicações. E se as crianças quiserem, poderão se submeter a exames genéticos quando forem jovens adultos. Portanto, para que os testes de DNA preditivos?

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